1º EXERCÍCIO - O LIVRO DO DESASSOSSEGO E O CONCEITO DE RIZOMA
Um pouco sobre os princípios
1 ° e 2° - Princípios de
conexão e de heterogeneidade: qualquer
ponto de um rizoma pode ser conectado a qualquer outro . É muito diferente da árvore ou da raiz
que fixam um ponto, uma ordem. Num rizoma, ao contrário, cada traço não remete
necessariamente a um
traço lingüístico: cadeias semióticas de toda natureza são aí
conectadas a modos de codificação muito diversos, cadeias biológicas,
políticas, econômicas, etc., colocando em jogo não somente regimes de signos
diferentes, mas também estatutos de estados de coisas.
3° - Princípio de
multiplicidade: é somente quando o múltiplo é efetivamente
tratado como substantivo, multiplicidade, que ele não tem mais nenhuma relação
com o uno como sujeito ou como objeto, como realidade natural ou espiritual, como
imagem e mundo. As multiplicidades
são rizomáticas e denunciam as pseudomultiplicidades arborescentes.
Inexistência, pois, de unidade que sirva de pivô no objeto ou que se divida no
sujeito. Inexistência de unidade ainda que fosse para abortar no objeto e para
"voltar" no sujeito.
4° - Princípio de ruptura
a-significante: contra os cortes demasiado significantes que
separam as estruturas, ou que atravessam uma estrutura. Um rizoma pode ser
rompido, quebrado em um lugar qualquer, e também retoma segundo uma ou outra de
suas linhas e segundo outras linhas. Todo rizoma compreende linhas de segmentaridade
segundo as quais ele é estratificado, territorializado, organizado,
significado,atribuído, etc.; mas compreende também linhas de
desterritorialização pelas quais ele foge sem parar.
5° e 6° - Princípio de
cartografia e de decalcomania: um rizoma
não pode ser justificado por nenhum modelo estrutural ou gerativo. Ele é
estranho a qualquer ideia de eixo
genético ou de estrutura profunda. Um eixo genético é como uma unidade pivotante objetiva
sobre a qual se
organizam estados sucessivos; uma estrutura profunda é, antes, como
que uma seqüência de base decomponível em constituintes imediatos, enquanto que
a unidade do produto se apresenta numa outra dimensão, transformacional e
subjetiva.
DELEUZE E GUATTARI SOBRE O CONCEITO DE RIZOMA
O modelo de rizoma criado por Felix Guattari e Gilles Deleuze na introdução à obra Capitalismo e esquizofrenia: Mil Platôs é uma tentativa de estabelecer uma crítica às teorias fundamentalistas sobre o conhecimento , no qual predomina um viés linear , uniforme e hierárquico de compreender o mundo .A ideia principal que permeia os princípios do rizoma é que o conhecimento ocorre e deve ocorrer de forma plural, onde não há um caminho único nem pré estabelecido a ser percorrido , não há uma regularidade e nem pontos de partida nem de chegada. O modelo rizomático - nome extraído da botânica onde um caule possui várias raízes originadas de qualquer ponto do caule e que de cada extensão das raízes pode-se nascer uma ou várias novas raízes- propõe um sistema que democratiza e incentiva novas formas assimilação , criando novas saídas ou , saída nenhuma . A seguir , proponho uma análise do livro do desassossego de Bernardo Soares em uma tentativa de leitura a partir dos conceitos de Guattari e Deleuze.
Trecho do livro do desassossego :
O livro do desassossego de Bernardo soares , um dos heterônimos de Fernando Pessoa , é um passeio na mente de um narrador que não narra , mas deixa à mostra um fluxo de (in)consciência dos mais delirantes onde nem sempre há um sentido a ser compreendido ou uma tentativa de contar alguma história. No trecho que observamos acima,há uma construção e uma desconstrução a cada momento : " talhar um caminho na vida e depois agir contrariamente a esse caminho " o que nos leva a pensar que a ideia é não seguir caminhos , mas pensá-los de uma forma e ir exatamente para outro lado.Quando se propõe comprar livros para não os ler e ir a concertos para não ouvir as músicas , rompe-se com um modelo lógico e dá início a um movimento de resistência que vai criar outros caminhos e outras consequências . É por esse caminho que Deleuze e Guattari desejam uma nova forma de pensar o conhecimento e o mundo . Sem princípios , meios e fins , mas uma reverberação dos meios , uma conexão que encaminha outras conexões e dessa forma enriquece o processo , cria linhas de fuga diversas e maximiza o poder da compreensão.
BIBLIOGRAFIA :
DELEUZE, G. e GUATTARI, F. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. vol.1. 2 ed. São Paulo. Editora 34, 2011.
PESSOA, Fernando. Livro do Desassossego / por Bernardo Soares. Intro e org. Richard Zenith. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.